"Então eu não sou a minha mente?"
Uma reflexão sobre a real liberdade e alguns passos para alcançá-la
"Então eu não sou a minha mente?" Foi o que minha tia, aos 60 e poucos anos, me perguntou, com um lampejo de alívio no olhar. Era como se um peso que ela carregava há décadas tivesse, enfim, começado a se dissipar.
A conversa começou quando ela comentou que achava inspirador o quanto eu tentava (quase sempre) buscar uma perspectiva mais leve diante das pessoas e das situações. Enquanto isso, ela se via presa em pensamentos negativos, julgamentos precipitados e ideias que frequentemente a faziam se sentir mal.
Expliquei a ela que também tenho pensamentos ruins. Não sou imune a julgamentos ou negatividade, mas a diferença é que, hoje em dia, consigo não me agarrar tanto a eles. Tento observá-los de fora, sem lhes dar tanto poder, trazendo a consciência para a situação. É um processo que não aconteceu da noite para o dia — foi um aprendizado que só veio com prática e com o desapego da ideia de que sou minha mente.
Quando mencionei o que aprendi no livro O Poder do Agora, de Eckhart Tolle, e disse que não somos nossos pensamentos, vi a surpresa e o alívio na expressão dela. Naquele momento, percebi o quão transformador é esse conhecimento: libertar-se da identificação com os próprios pensamentos é como abrir uma janela e deixar o ar fresco entrar.
E essa também foi uma grande virada para mim. Por muito tempo, eu me culpava por ter pensamentos ruins e obsessivos, por imaginar cenários que temia profundamente. Era como se minha mente estivesse sempre no controle, e eu, apenas reagindo a ela. Tudo começou a mudar quando descobri que eu não sou a minha mente.
A prática do desapego
Esse costuma ser um dos primeiros aprendizados de quem inicia a jornada do autoconhecimento, uma verdadeira porta para dentro de nós mesmos. É libertador, porque nos desprende de quem achamos que somos e abre espaço para acessarmos quem realmente somos.
A mente é uma ferramenta poderosa, mas ela existe para nos servir e não o contrário. Quando nos identificamos completamente com ela, podemos cair em narrativas como “eu nunca sou suficiente” ou “nada dá certo para mim”, que parecem verdades absolutas, mas, na realidade, são apenas histórias criadas pela nossa mente.
O que aprendi com autores como Eckhart Tolle e filosofias como o Budismo é que os pensamentos vêm e vão, como nuvens no céu, e o sofrimento surge justamente quando nos apegamos a essas histórias e as tomamos como nossa identidade.
Portanto, desapegar-se da mente não significa o fim dos pensamentos, mas sim não se identificar com eles. É sobre reconhecer que sua essência, quem você realmente é, está no espaço silencioso entre eles.
Conforme vamos entendendo isso, trazendo presença ao nosso dia a dia por meio de meditações, rituais e pausas conscientes, começamos a perceber que existe, sim, uma separação entre nós e o que pensamos ou sentimos.
Passamos a observar as situações de uma perspectiva mais ampla, como se víssemos tudo de cima. Esse processo, que começa com pequenos passos, é um treino de desapego. E quanto mais praticamos, mais leve a vida vai ficando.
Podemos até enfrentar dores e desafios, mas conseguimos encontrar paz no meio disso porque ocupamos o lugar da consciência — aquele espaço de quem observa, sem se fundir completamente com o que está acontecendo. Nesse estado, reconhecemos que as emoções são passageiras e não nos definem, assim como nossos pensamentos e os acontecimentos. Tudo se torna um veículo para continuarmos nos conhecendo e nos expandindo.
Como começar
Se isso parece desafiador, comece com um exercício simples: observe seus pensamentos como se fossem nuvens passando no céu. Deixe os pensamentos surgirem e permita que eles se vão, reconhecendo: “ali está a voz, e aqui estou eu, testemunhando.”
Para aprender com os pensamentos, pergunte-se: o que este pensamento diz sobre mim? De onde veio? Ele reflete uma crença, um medo, um desejo reprimido ou uma autosabotagem? Talvez seja algo absorvido do senso comum ou do inconsciente coletivo. Avalie se há alguma informação nova ali, algo que possa contribuir para o seu crescimento. E, independentemente da resposta, deixe-o ir, assim como veio, sem se apegar.
Outro exercício é se perguntar: “Qual será o meu próximo pensamento?”. Perceba como essa pergunta cria uma pausa, um espaço vazio antes que o próximo pensamento surja. Esse espaço é onde mora a presença, onde sua verdadeira essência habita.
E é justamente nesse estado de presença que encontramos a chave para nos libertar das narrativas mentais que nos aprisionam.
A vida só acontece no agora. Quando o passado ocorreu, era no agora. Quando o futuro chegar, também será no agora. Logo, o passado e o futuro são projeções da mente. Isso não quer dizer que devemos ignorá-los, mas sim compreender que é somente no presente que temos o poder de agir, construir e moldar, dia após dia, o amanhã que desejamos.
Presença que liberta
Ao observar um pensamento e escolher não entrar na narrativa, você treina seu cérebro para um novo padrão, mais leve e relaxado.
Ao buscar consciência nos afazeres simples, como preparar um café observando cada etapa ou tomar um banho percebendo às sensações, você vai criando um espaço interno que promove clareza e bem-estar, e te faz acessar quem você realmente é.
Pouco a pouco, essa consciência nas pequenas coisas se reflete também nas grandes decisões. Isso vai gerando um ciclo do bem e uma vida mais consciente e autêntica, sem ser refém da mente.
Vale lembrar que a busca é diária e eterna. Não pense que, só porque estou aqui falando disso, significa que vivo num estado de total desidentificação com a mente. Longe disso. Também estou sempre exercitando e, muitas vezes, caio nas armadilhas, mas, quando percebo, me trago de volta.
No entanto, quando estou nesse lugar de consciência, é libertador perceber os pensamentos pelo que realmente são: apenas pensamentos. Às vezes, dou risada de alguns, deixo outros escaparem pela porta dos fundos antes mesmo de dizer oi, porque não têm importância ou relevância, e observo muitos com curiosidade, como quem desvenda algo novo e intrigante sobre mim mesma.
Pratique! Você não precisa fazer nenhum esforço para isso. Na verdade, é o oposto.
É sobre apenas…d e s a p e g a r. Experimente e descubra a real liberdade. :)
Com amor,
Renata Stuart
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Re! Estou muito feliz retomou com sua newsleter! Nos ultimos dias a cada capitulo reforçou tinha certeza a muito que, podemos seguir nosso proprio caminho, sem ficar preso com qeu a sociedade quer esta belce para nos!